Os Sofistas e o Relativismo: Entre o Saber e a Controvérsia Filosófica
- Porfirio Amarilla Filho
- 15 de dez. de 2024
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Na tradição da Filosofia, os sofistas foram, por muito tempo, alvos de críticas severas, especialmente nos escritos de Platão. Frequentemente retratados como "mercenários do conhecimento", eles eram acusados de vender a sabedoria como uma mercadoria e de subverter os valores tradicionais em nome de interesses particulares. Esse julgamento, em parte, foi moldado pelo contexto histórico: a morte de Sócrates, que teve entre seus acusadores figuras associadas ao pensamento sofista, reforçou o repúdio de Platão a essa corrente.

Platão descreveu os sofistas como falsos sábios, indivíduos que iludiam a sociedade grega com argumentos persuasivos e artificiais. A desqualificação da filosofia sofista por parte de Sócrates e Platão estava profundamente ligada à sua concepção de verdade. Para eles, a Verdade — com "V" maiúsculo — era um ideal absoluto, algo a ser alcançado por meio da razão e da reflexão filosófica. Em contrapartida, os sofistas defendiam que a verdade era relativa, ou seja, dependia da perspectiva de quem a enunciava, o que, para os filósofos clássicos, representava uma ameaça ao conhecimento objetivo e à busca pela sabedoria plena.
Curiosidade: Apesar das críticas, é interessante notar que os sofistas foram os primeiros a cobrar por suas aulas e a sistematizar o ensino da retórica. Eles acreditavam que o domínio da palavra era uma habilidade essencial para a participação na vida pública e política da Grécia, especialmente nas democracias emergentes. Esse pioneirismo os colocou como precursores da educação formal, ainda que suas intenções fossem alvo de intensos debates éticos e filosóficos.
Um dos pilares do pensamento sofista é a máxima de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas." Essa frase resume a visão relativista de que a verdade não está no objeto em si, mas na interpretação que o sujeito faz dele. Em outras palavras, o que é verdadeiro para uma pessoa pode não ser para outra, pois a verdade é subjetiva e moldada pelas experiências e percepções individuais.
Esse relativismo tem implicações interessantes. Por um lado, ele abre espaço para a consideração de diferentes perspectivas, promovendo uma abordagem pluralista e menos dogmática do conhecimento. É um posicionamento que, no contexto da ciência, estimula a investigação crítica e a exploração de múltiplas possibilidades. Por outro lado, fora dos limites do rigor científico, o relativismo pode dar margem ao senso comum e ao subjetivismo extremo, onde opiniões pessoais são confundidas com verdades absolutas.
Aqui reside o ponto central da crítica socrática aos sofistas: a ideia de que todo pensamento ou opinião individual equivale a uma verdade válida. Sócrates argumentava que o verdadeiro conhecimento não poderia ser baseado apenas no "eu acho", mas precisava passar pelo crivo do diálogo, da reflexão e da correspondência com a realidade do objeto. Seu método dialético buscava exatamente isso: separar as opiniões infundadas do conhecimento legítimo.
Os sofistas, no entanto, não foram apenas vilões da Filosofia. Eles trouxeram contribuições significativas ao enfatizarem a complexidade do conhecimento e a necessidade de considerar diferentes interpretações de um mesmo objeto. Contudo, sua abordagem nos ensina uma lição importante: relativismo não significa abdicar da busca pela verdade. Afinal, todos têm opiniões, mas o que realmente importa é a construção de um saber que transcenda o "achismo" e nos leve à compreensão profunda do mundo.
Todavia, cabe ressaltar que tanto Sócrates quanto os sofistas deixaram um legado duradouro. Enquanto um nos lembra da humildade intelectual e da busca incessante pela verdade, os outros nos alertam sobre a importância de questionar certezas absolutas. E, nesse diálogo entre posições opostas, seguimos construindo a Filosofia.
É isso aí.... !