Os Alquimistas estão chegando
- Porfirio Amarilla Filho
- 12 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de jan.
Os Filósofos Alquimistas: Paracelso, Agripa e Telésio
Sempre que alguém me pergunta se astrologia é ciência, a resposta que vem à minha mente e que a pronuncio de modo claro e preciso é: “- Não”. No entanto, me sinto na obrigação de explicar que nem sempre foi assim.
A história da filosofia apresenta figuras cuja obras transcenderam os limites do pensamento puramente racional, combinando a ciência, a espiritualidade e o misticismo. Paracelso, Cornélio Agripa e Bernardino Telésio foram três desses pensadores da modernidade que, ao entrelaçar alquimia e filosofia, uniram a forma como compreendemos o mundo natural e o papel do ser humano no universo às questões místicas e espirituais. Não muito longe do que fizeram os filósofos medievais, e diria eu, o fizeram com mais “criatividade”.

Paracelso: O Pai da Química Moderna
Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (1493–1541), foi um médico, alquimista e filósofo que revolucionou a medicina e a ciência de sua época. Ele rejeitou as tradições médicas aristotélicas e galénicas, propondo uma abordagem baseada na observação direta da natureza e na utilização de substâncias químicas para tratar doenças.
Principais Contribuições:
Alquimia e Medicina: Paracelso não via a alquimia apenas como a arte de transformar metais em ouro, mas como uma ferramenta para compreender a natureza e criar remédios. Ele foi pioneiro no uso de minerais e compostos químicos, como o mercúrio e o enxofre, na medicina.
Princípio dos Três Elementos: Paracelso ampliou a teoria dos quatro elementos (terra, água, fogo e ar) ao introduzir o sal, o enxofre e o mercúrio como os três princípios fundamentais que explicam a composição e a transformação das substâncias.
Holismo: Ele defendeu que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas um equilíbrio entre corpo, mente e espírito, um conceito que influenciou a medicina integrativa moderna.
Cornélio Agripa: O Mago e Filósofo
Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim (1486–1535) foi um pensador renascentista que integrou a filosofia, a teologia e a magia em uma visão de mundo abrangente e profundamente mística. Em sua principal obra, De Occulta Philosophia (Filosofia Oculta), Agripa explorou as conexões entre o homem, o universo e o divino, defendendo que a magia era uma forma de conhecimento que unia ciência e espiritualidade.
Principais Contribuições:
Filosofia Oculta: Agripa sistematizou o conhecimento esotérico de sua época, abordando temas como astrologia, alquimia, cabala e magia natural. Ele acreditava que essas práticas eram formas lícitas de explorar os mistérios do universo.
Defesa da Dignidade Humana: Influenciado pelo humanismo renascentista, Agripa defendia que o ser humano é um microcosmo que reflete o macrocosmo do universo, sendo dotado de capacidade racional e espiritual para compreender o divino (uma nítida influência do estoicismo).
Crítica ao Dogmatismo: Ele criticou os abusos da autoridade eclesiástica e acadêmica, argumentando que o verdadeiro conhecimento surge da busca interior e não apenas da tradição.

Bernardino Telésio: O Filósofo da Natureza
Bernardino Telésio (1509–1688) foi um filósofo e naturalista italiano que desafiou o aristotelismo predominante ao propor uma abordagem empírica e naturalista para compreender o mundo. Sua principal obra, De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas), é considerada um marco na transição do pensamento medieval para a ciência moderna.
Principais Contribuições:
Empirismo: Telésio enfatizou a importância da observação direta da natureza como fonte de conhecimento, antecipando o método científico desenvolvido por Galileu e outros.
Energia e Forças Naturais: Ele acreditava que o calor e o frio são os princípios fundamentais que governam os fenômenos naturais, rejeitando a teoria dos quatro elementos.
Autonomia da Natureza: Telésio propôs que a natureza opera segundo leis próprias e independentes de influências divinas diretas, uma ideia que influenciou a ciência moderna.
Os alquimistas se foram, mas…
Paracelso, Agripa e Telésio foram pioneiros em suas áreas e marcaram a transição entre a filosofia medieval e o pensamento moderno. O que chama a atenção nesses pensadores, no entanto, é a percepção de que eles expressaram em seus pensamentos o próprio contexto cultural, sem deixar de lado a capacidade de reflexão e o olhar visionário para o desenvolvimento do conhecimento humano. Coisa que muitos místicos (para não dizer religiosos) hoje, repousados no espiritualismo e no materialismo, não o fazem.
Paracelso revolucionou a medicina e abriu caminho para a química moderna. Agripa sistematizou o conhecimento esotérico e contribuiu para o renascimento do humanismo místico. Telésio, por sua vez, antecipou o empirismo e ajudou a estabelecer as bases para a ciência moderna.
Seus trabalhos continuam a inspirar e desafiar estudiosos de diversas áreas, mostrando que a busca pelo conhecimento não é apenas uma questão de entender o mundo físico, mas também de explorar os mistérios da existência e da conexão entre o ser humano e o cosmos.
Esses três pensadores, ao fundirem alquimia e filosofia, nos convidam a refletir sobre os limites do conhecimento e a vastidão do desconhecido: o místico não precisa ser ciência; a ciência não precisa ser místico, porém nenhuma delas devem ser dogmáticas. Ambas são aspectos humanos da compreensão da realidade, cada uma tentando explicar, ao seu modo, a compreensão da realidade. A única vantagem da ciência nestes aspectos é que, às vezes, o que ela afirma pode ser demonstrado.
É isso ai....